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Assegurar equilíbrio hidrostático não é suficiente
para assegurar a estabilidade de uma estrela. O equilíbrio
térmico também precisa ser considerado. Um equilíbrio
térmico perfeito só é atingido por um sistema se todas as
partes têm a mesma temperatura, e não existe
qualquer fluxo de energia entre suas partes. Este equilíbrio
perfeito certamente não ocorre no interior de uma estrela.
Vimos que a temperatura no interior do Sol é da ordem
de 10 milhões de graus, enquanto a temperatura nas
camadas superficiais é da ordem de 5400 K. Além disto,
medimos um fluxo de energia saindo das camadas superficiais,
a luminosidade do Sol. A existência deste fluxo
significa desvio do equilíbrio térmico perfeito.
Que tipo de equilíbrio térmico atua no interior de uma estrela?
Para responder esta pergunta, precisamos primeiro encontrar
as fontes de energia que mantém o fluxo através da superfície
(fotosfera). Precisamos considerar três tipos de energia:
energia térmica, , energia gravitacional, , e energia
nuclear, . As duas primeiras podem ser representadas por
uma simples integral sobre a estrela:
|
(1.27) |
O termo em parêntesis na equação (1.26) representa a energia
térmica de um gás ideal, monoatômico, por grama de matéria,
enquanto o termo em parêntesis na equação (1.27) representa
a energia necessária para mover uma grama de matéria de sua posição
na estrela até o infinito, depois que todas as outras camadas
externas da estrela já foram removidas. O valor numérico
cotado nas equações é uma estimativa da ordem de grandeza
das duas energias, usando os valores anteriores para o Sol.
Não é por acidente que as estimativas das duas energias são
tão parecidas. A igualdade segue diretamente da equação
de equilíbrio hidrostático; multiplicando a equação
de equilíbrio hidrostático
(1.24) por
e integrando sobre a estrela, obtemos:
Integrando por partes o termo da esquerda, isto é:
e usando
e , obtemos:
O primeiro termo à direita pode ser desprezado porque no interior
o raio é nulo, e na superfície a pressão é insignificante.
|
(1.28) |
que é o Teorema do Virial da dinâmica clássica,
ou virial de Clausius, em honra ao seu proponente, o
alemão
Rudolf
Julius Emanuel Clausius (1822-1888).
Identificando o termo da direita com o negativo da energia gravitacional,
, e usando a equação
de estado de um gás ideal (1.25)
:
obtemos:
|
(1.29) |
Naturalmente os valores obtidos nas equações (1.26) e (1.27)
não são exatamente múltiplos, pois são apenas estimativas
de grandeza.
Para uma estrela em contração, a energia gravitacional decresce
continuamente. Exatamente metade deste decréscimo de energia será
compensado por um aumento na energia térmica, de acordo com a
relação (1.29). A outra metade será perdida por
radiação pela superfície. Desta forma, a quantidade de
energia passível de perda por radiação é somente
igual à energia térmica. Por quanto tempo esta reserva de
energia pode suprir a energia irradiada pela superfície?
Nossas estimativas numéricas para o Sol podem ser usadas
para calcular este tempo, chamado de
tempo de contração de Kelvin,
já que
ergs/s.
Este tempo,
também chamado de tempo de
Kelvin-Helmholtz,
em honra ao irlandês Lord William Thomson, Barão Kelvin
(1824-1907), e ao alemão Hermann Ludwig Ferdinand
von Helmholtz (1821-1894),
é muito curto, mesmo se comparado com o intervalo de tempo
desde o aparecimento de algas na Terra. Portanto concluímos
que a energia térmica e gravitacional de uma estrela não são
suficientes para suprir a perdas pela superfície durante a
vida de uma estrela, embora possam ser importantes em fases
curtas e críticas da evolução estelar.
Nesta derivação, a energia térmica, , foi definida
como a energia cinética translacional, e não inclui a energia
dos graus de liberdade internos, como rotação, vibração
ou excitação. Do virial, obtemos:
Esta relação, e (1.29), só são estritamente válidas para um
gás em que o coeficiente adiabático,
,
onde
e
e
são os calores específicos a pressão
constante e a volume constante,
como a equação do gás ideal.
O conceito de calor específico foi desenvolvido por
Joseph Black (1728-1799).
Para uma equação de estado adiabática geral, definida como:
e como derivaremos na
próxima seção (eq. 1.32-16):
|
(1.30) |
podemos calcular a energia cinética total do gás K,
já que:
Para um gás isotrópico,
Portanto, se integramos sobre o volume, para incluir todas as
partículas,
| (1.31) |
Como
| (1.31a) |
e o teorema de virial, equação
(1.28), pode ser escrito como:
Como, substituindo-se (1.30) em (1.31):
ou
onde
é a energia cinética total. Desta forma,
vemos que
somente se
.
A energia total pode ser escrita como:
e finalmente:
|
(1.32) |
Para um
gás de Fermi completamente relativístico,
, e neste caso toda a variação de energia
gravitacional transforma-se em energia interna, sem que
a estrela precise irradiar.
Como a energia total é dada por (1.32),
se
a energia total é positiva, e massa
é perdida pela estrela (camadas externas ejectadas).
Como
também para fótons, uma estrela dominada pela pressão
de radiação efetivamente ejecta suas camadas externas. Este
fato é o que limita a massa superior das estrelas, próximo
de 100 . A ionização também pode fazer
decrescer abaixo de 4/3 nas regiões de ionização, causando
instabilidades.
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Astronomia e Astrofísica
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Modificada em 28 ago 2001