Segundo Henry Norris Russel (Notes on white dwarfs and small companions, Astronomical Journal, v. 51,p. 13, Jun 1944), quem primeiro reportou a existência de anãs brancas foi Williamina Fleming (1857-1911) em 1910.
A
anã branca mais próxima conhecida é a companheira de Sírius,
α do Cão Maior, a estrela mais brilhante do céu. Sírius era
binária astrométrica,
descoberta por Friedrich Wilhelm Bessel (1784-1846) em 1844,
até 31 de janeiro de 1862, quando o fabricante de telescópios americano Alvan Graham
Clark Jr. (1832-1897), testando seu novo telescópio de 47 cm de diâmetro,
detectou sua companheira fraca
pela primeira vez,
chamada deste então de Sírius B.
Este sistema binário está a 8,6 anos-luz de distância.
Na foto vemos
Sírius A e, na ponta da flecha, Sírius B, com
M=1,05 M
Sol, T
ef=25 000 K, R=5800 km, P
orbital=50,1 anos,
9 magnitudes mais fraca que Sírius A e
sempre mais próxima que 11,5 segundos de arco.
Em 1914, o americano, nascido na Síria,
Walter Sydney Adams
(1876-1956), estudando o espectro de Sírius B,
[1915,
"The
Spectrum of the Companion of Sirius".
Publications of the Astronomical Society of the Pacific 27 (161), 236]
descobriu que sua baixa luminosidade (V=8.33) e
sua alta temperatura (25 200 K é o valor atual) indicavam um
raio de
18 000 km (5 800 km é o valor atual), ou seja
da ordem do raio da Terra, apesar de sua
massa ser parecida com a massa do Sol.
40 Eridani B (40 Eri B) foi descoberta em 1914 por Henry Norris Russell
(Popular Astronomy, 22, 275, 7).
Até 1917 três estrelas com estas
características eram conhecidas: Sírius B, 40 Eridani B,
e van Maanen 2 [Adriaan van Maanen (1884 - 1946)], e
foram chamadas de anãs brancas.
Sírius B tem pouco mais de uma
massa solar, raio de 5800 km e
densidade média
de 2 milhões de
vezes a densidade da água (2×106 g/cm3). Algumas anãs
brancas têm densidades centrais maiores do que
10 milhões de
vezes a densidade
da água. Uma colher de chá do material que as constitui pesaria 50 ton!
Podemos comparar com a densidade dos elementos
mais densos na Terra, como a platina, com 21 g/cm3,
o ósmio e o irídio, com 22,6 g/cm3.
Subrahmanyan Chandrasekhar
Entre 1931 e 1939,
Subrahmanyan Chandrasekhar
(1910-1995) construiu modelos rigorosos
descrevendo a estrutura destas estrelas,
[Monthly
Notices of the Royal Astronomical Society, 91, 456,
Monthly
Notices of the Royal Astronomical Society, 95, 676],
e qual sua maior massa possível,
de 1,44 M⊙, se μe=2 (matéria
com 1 elétron para cada próton+nêutron)
(1939, An Introduction to the Study of Stellar Structure,
University of Chicago Press).
Se o campo magnético for extremamente intenso - acima de 1 gigagauss -
ou se a rotação da estrela for próximo da velocidade
crítica (Prot < 1 segundo), a massa limite pode ser maior.
A pressão
(a fonte microscópica de
pressão é a reflexão, ou absorção, de partículas por uma superfície real ou imaginária, que resulta em transferência de momentum para esta superfície exercendo uma força na superfície; a força média por unidade de área é chamada de pressão)
que suporta estas densidades enormes é chamada de
pressão de degenerescência,
e é oriunda do princípio
da incerteza de Werner Karl Heisenberg (1901-1976),
onde o momentum p=m v,
acoplado ao princípio da exclusão de Wolfgang Pauli (1900-1958),
que diz que dois férmions não podem ocupar o mesmo estado quântico
simultaneamente, força os elétrons a
terem momenta, e energia cinética, tão altos
- muito maiores do que indicaria sua energia térmica -
que contrabalançam
a atração gravitacional.
Matéria normal:
Matéria degenerada:
Hoje em dia, mais de 39 000 anãs-brancas são conhecidas.

Kepler de Souza Oliveira Filho (1956-), Scot J. Kleinman, Atsuko Nitta, Detlev Koester, Bárbara Garcia Castanheira (1979-),
Odilon Giovannini, Alex Fabiano Murillo da Costa e Leandro Gabriel Althaus (1965-)
[2007,
"White dwarf mass distribution in the SDSS",
Monthly Notices of the Royal Astronomical Society 375 (4), 1315]
determinaram a distribuição de massa das anãs brancas DAs,
e encontraram as anãs brancas mais massivas conhecidas até hoje,
com 1,33 M
Sol.
Relação massa inicial vs. massa final para as estrelas, com metalicidade solar, que dão origem
às anãs brancas próximas
[James Liebert, Gilles Fontaine, Patrick A. Young, Kurtis A. Williams e David Arnett, 2013, Astrophysical Journal, 769, 7 (arXiv 1205.0587v1)].
Jeffrey D. Cummings, Jason S. Kalirai, Pier-Emmanuel Tremblay & Enrico Ramirez-Ruiz
[2016,
Astrophysical Journal, Volume 818, Issue 1, article id. 84, 13 pp. (arXiv160103053C)] econtraram esta
relação para a massa inicial versus massa final das anãs brancas em aglomerados abertos na nossa Galáxia,
embora esta relação dependa da metalicidade inicial das estrelas:
Mfinal = (0,143 ± 0,005) Minicial + 0,294 ± 0,020 MSol

Espectros de anãs brancas
[Scot J. Kleinman, Kepler de Souza Oliveira Filho (S. O. Kepler), Detlev Koester, Ingrid Pelisoli, Viviane Peçanha, Atsuko Nitta,
José Eduardo da Silveira Costa, Jurek Krzesinski, Patrick Dufour, François-RenéLachapelle, Pierre Bergeron, Ching-Wa Yip, Hugh C. Harris, Daniel J. Eisenstein, Leandro Gabriel Althaus & Alejandro Hugo Córsico,
SDSS DR7 White Dwarf Catalog, publicado em
2013 no Astrophysical Journal Supplement Series, 204, 5].

Detalhes dos perfís de linhas de algumas anãs brancas. WD0058-044 mostra efeito Zeeman fraco.

As linhas mostram as curvas de raio constante. Os modelos de 60, 1 e 0,5
massas solares estão na seqüência principal.
As anãs brancas progenitoras de supernovas tipo Ia, por acresção
em um sistema binário interagente,
têm a abundância de 22Ne
formada principalmente
durante a queima por CNO que ocorre durante a queima do He.
Frank X. Timmes, Edward F. Brown,
& James W. Truran (2003, Astrophysical Journal, 590, L83),
por exemplo,
mostraram que a massa de 56Ni
depende linearmente da abundância de 22Ne
e, portanto, linearmente da metalicidade da anã branca progenitora.
O espalhamento em metalicidade observado na vizinhança solar é
suficiente para induzir uma variação de 25% na massa de 56Ni
ejetado pela SN Ia, o que induz uma variação no brilho de pico na
banda V de 0,2 mag. Este espalhamento em metalicidade está presente
até o limite de z < 1 das observações atuais e pode ajudar a explicar
a correlação entre o brilho de pico e o tipo da galáxia hospedeira.
Maurizio Salaris,
Immaculada Dominguez, Enrique Garcia-Berro,
Maragarida Hernanz, Jordi Isern & Robert Mochkovitch
(1997, Astrophysical Journal, 486, 413) demonstraram que a incerteza na taxa da reação nuclear
C(α,γ)O leva a uma incerteza na composição química do núcleo de
uma anã branca. Por exemplo, um modelo com 0,6 MSol com núcleo de
C/O tem 74% de O
usando-se o limite superior desta taxa de reação, e 57% usando-se o limite inferior.
O termo anã branca foi proposto em 1922 por Willem Luyten.
Jay Holberg Bulletin of the American Astronomical Society, Vol. 37, p.150,
propõe que 40 Eridani B foi a primeira anã branca identificada,
em 1910, e Sírius B a segunda, em 1915.
40 Eridani é um sistema triplo, em que a estrela de sequência principal
40 Eridani A está em órbita com a a anã branca 40 Eridani B e uma
anã vermelha 40 Eridani C.
O par 40 Eridani B/C foi descoberto por William Herschel em 31 de janeiro de 1783
e está registrado na página 73 do seu
Catalogue of Double Stars, de 1785,
Philosophical Transactions of the Royal Society of London 75: 40-126.
O par foi novamente observado por Friedrich Georg Wilhelm Struve em 1825 e por Otto Wilhelm von Struve em 1851.
Em 1910, Henry Norris Russell, Edward Charles Pickering e Williamina Fleming descobriram que, apesar de ser uma
estrela fraca, 40 Eridani B tinha um tipo espectral A, ou seja, branca.
Seu espectro foi descrito por
Walter Sydney Adams em 1914 (An A-Type Star of Very Low Luminosity, Publications of the Astronomical Society of the Pacific 26: 198).
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Modificada em 14 maio 2025