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Ressaltamos que o calor específico de um gás de elétrons
degenerados é controlado pelos íons, pois os íons
têm a maior capacidade térmica no núcleo degenerado,
que contém praticamente toda a massa da estrela.
Produção de energia por reações nucleares e
por contração gravitacional contribuem muito pouco para
a luminosidade da estrela, se existem, e o núcleo é basicamente
isotérmico devido à alta eficiência da condução
térmica pelos elétrons degenerados.
Desta maneira, podemos modelar o núcleo como uma simples
fonte de calor, com a energia produzida pelo movimento térmico
dos íons.
Nestas condições, obteremos uma relação
do tipo lei de potência entre a idade e a luminosidade da estrela,
como encontrada por
Leon Mestel (1927-)
em 1952:
Seja
a
energia total armazenada pela anã branca; a luminosidade
será dada pela razão com que esta energia é irradiada:
e define a taxa de esfriamento da anã branca.
Esta terminologia foi introduzida pelo reconhecimento
que a fonte da energia que é irradiada pela atmosfera
da estrela é a energia térmica da estrela ().
Como a maior parte da anã branca é isotérmica,
a primeira aproximação é:
como mostraremos a seguir.
Nesta aproximação, os pequenos ajustes da densidade interna devido
ao esfriamento são desprezados, já que a energia gravitacional liberada
é completamente absorvida pelos elétrons degenerados, que são
forçados a níveis de energia mais altos.
Se processos nucleares (boa aproximação) e de emissão de neutrinos (má aproximação) são desprezados,
bem como a liberação de energia gravitacional residual
(),
a luminosidade da anã branca é diretamente proporcional
à taxa de decréscimo da temperatura da estrela.
Para um gás de elétrons degenerados mas não relativísticos,
a contribuição eletrônica para o calor específico
[seção (cve)],
por unidade de massa (Z elétrons por AH de massa),
derivada por Subrahmanyan Chandrasekhar (1910-1995)
(1939, An Introduction to the Study of
Stellar Structure, University of Chicago Press, p. 394),
é:
onde
é a unidade de
massa atômica (),
Z é a carga média dos íons e
é o número atômico médio.
Como o gás está altamente degenerado,
é muito
menor do que a energia de Fermi dos elétrons [eq. (1.4)],
|
(1.80) |
e podemos desprezar
em comparação com o
calor específico dos íons.
Fisicamente, os elétrons não contribuem para o reservatório de
energia porque partículas degeneradas já ocupam seu estado de
energia mais baixo e, portanto, não podem esfriar.
Para um gás (de íons) ideal,
A equação básica de evolução estelar para
a conservação de energia é:
|
(1.81) |
O termo
representa a troca de calor (perda)
por unidade de massa, e
é a taxa de
geração ou perda de energia por unidade de massa
devido a reações nucleares ou emissão de neutrinos,
que desprezamos.
A alta degenerescência do núcleo da anã branca produz uma alta
eficiência de condução térmica pelos elétrons, tornando o
núcleo praticamente isotérmico.
Como
e desprezamos a variação da densidade, a equação (1.81) pode ser escrita como:
|
(1.82) |
onde
é a temperatura do núcleo.
Para calcular
precisamos levar em conta a transferência de
energia pelo envelope fino e não degenerado. Se o envelope está
em equilíbrio radiativo, e pudermos utilizar a
lei de opacidade de Kramers:
|
(1.83) |
levando-se conta as equações básicas:
Continuidade da Massa
Equilíbrio Hidrostático
Equilíbrio Radiativo
podemos dividir a
equação do equilíbrio radiativo pela equação
do equilíbrio hidrostático, obtendo:
Tendo em vista que a base do envelope (He+H) ocorre a
aproximadamente 10-2M*,
podemos aproximar
e
no envelope. Usando
podemos usar a lei de opacidade de Kramers (1.83) para obter:
que pode ser integrada usando-se a condição de contorno zero
para a superfície
(
para ), resultando em:
|
(1.84) |
onde
é o peso molecular médio no envelope
(
para hidrogênio e 2 para o hélio) e
é a pressão.
Na borda entre o núcleo isotérmico degenerado, a
pressão e a temperatura estão relacionados por
e obtemos
|
(1.85) |
e
|
(1.86) |
Substituindo a expressão para a pressão
dada pela equação (1.86) na
equação (1.84), esta se reduz à relação entre
a luminosidade e a temperatura:
|
(1.87) |
e de (1.85)
podemos simplificar a equação (1.87) para:
|
(1.88) |
onde
é o peso molecular médio por elétron
e
é o coeficiente da lei de Kramers
(1.83).
Esta é a razão que, no diagrama H-R, a sequência de esfriamento das anãs brancas
é uma reta (log L ∝ 3,5 log T).
Podemos agora integrar a equação (1.82)
diretamente para obter a relação idade-luminosidade:
Esta é a lei de esfriamento de Mestel, na forma apresentada por
Hugh M. Van Horn (1938-).
As aproximações usadas para derivar a lei de Mestel foram:
- - Desprezar fontes e sumidouros de energia
(energia nuclear e esfriamento por neutrinos:
),
- - Desprezar contração gravitacional
,
- - Desprezar a capacidade térmica dos elétrons
,
- - Usar lei do gás perfeito para os íons
,
- - Assumir que o núcleo é isotérmico
,
- - Assumir equilíbrio radiativo no envelope,
- - Assumir uma lei de opacidade de Kramers no envelope.
Como a energia média de uma anã branca com
,
para
,
não podemos desprezar o efeito de contração
gravitacional residual
para massas baixas. Também não podemos desprezar
a contribuição
eletrônica ao calor específico, já que
os elétrons podem contribuir com até 30-50% ao calor
específico de estrelas quentes, com núcleos de carbono.
E não podemos desprezar a perda de energia por neutrinos,
que pode ser dominante para Tef>30000 K,
dependendo da massa da estrela.
Resultados mais precisos podem ser obtidos incluindo-se os
seguintes processos, desprezados na teoria de Mestel:
- esfriamento por neutrinos (),
importante para
;
- liberação de calor latente de cristalização,
importante para
;
- geração de energia nuclear pelo processo próton-próton
(),
importante quando
;
- liberação de energia gravitacional para as camadas externas.
Uma fórmula aproximada que inclui estes efeitos é:
A dependência da luminosidade indica que as anãs brancas
mais quentes -- e mais luminosas --
esfriam mais rápido.
A idade das anãs brancas menos luminosas observadas
(com
) é cerca de
anos,
comparável com a idade das estrelas mais frias da nossa
Galáxia.
Evolução da luminosidade de uma anã
branca de 0,6 M
Sol com o tempo, representado pela
T
ef,
tanto de fótons quanto de neutrinos.
As anãs brancas mais frias também são dominadas pela
cristalização do núcleo e possível separação
total dos elementos no núcleo, e suas
camadas externas, embora de baixa densidade, também se tornam
degeneradas.
A idade total de uma anã branca depende não somente de seu esfriamento, mas de quanto
tempo levou a progenitora a chegar à fase de anã branca. Nos modelos de Alejandra
Romero de 2014, uma progenitora de uma massa solar
com z=0,0001, como a dos aglomerados globulares menos metálicos,
gera uma anã branca de 0,568 MSol em 5,9 Ganos,
enquanto uma com z=0,02, solar,
gera uma anã branca de 0,511 MSol em 12,5 Ganos.
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Modificada em 29 set 2014