Via Láctea
Apesar de fortes restrições interiores, o homem teve aos poucos que abandonar a noção de que tinha qualquer posição central no Universo, e no começo do século XX reconheceu que vivemos num planeta nada excepcional, em torno de uma estrela nada excepcional, o Sol, localizada quase na extremidade de uma galáxia normal, a Via Láctea. Esta galáxia faz parte de um grupo de galáxias, o Grupo Local, localizado na periferia de um grande cúmulo de galáxias. Mesmo este cúmulo, o cúmulo de Virgem, é pequeno em relação aos grandes cúmulos de galáxias que podemos observar em outras partes do Universo. Nossa localização no Universo é portanto insignificante.
Em 1912
Vesto Melvin Slipher (1875-1969)
descobriu que as linhas espectrais das estrelas na galáxia
de Andrômeda (M31)
mostravam um enorme deslocamento para o azul,
indicando que esta galáxia está se aproximando do Sol,
a uma velocidade de 300 km/s.
Slipher iniciou então um trabalho sistemático
(1917, Proceedings of the American Philophical Society, 56, 403)
que levou duas décadas, demonstrando
que das 41 galáxias que ele estudou, a maioria apresentava
deslocamento espectral para o vermelho, indicando que
as galáxias estavam se afastando de nós. Slipher descobriu
que quanto mais fraca a galáxia e, portanto mais distante,
maior era o deslocamento para o vermelho de seu espectro (redshifht).
Georges-Henri Édouard Lemaître (1894-1966), em seu artigo de 1927, Un univers homogène de masse constante et de rayon croissant, rendant compte de la vitesse radiale des nébuleuses extra-galactiques. publicado no Annales de la Société scientifique de Bruxelles, Sèrie A, 47, 49 já tinha chegado à mesma conclusão.
A relação entre distância e velocidade constituiu a primeira evidência para a expansão do Universo, já predita pelo russo Alexander Friedmann (1888-1925) em dois artigos publicados no Zeitschrift für Physik em 1922 e 1924, e pelo belga Georges-Henri Édouard Lemaître (1894-1966) em 1927, no Annales de la Société Scientifique de Bruxelles.
Seja o deslocamento para o vermelho das linhas espectrais (redshift):
Num tempo ti=0, as distâncias das passas em relação a uma passa de referência são:
C = (1cm/h)/2cm = (3cm/h)/6cm = (4cm/h)/8cm = 0,5/h
que é a "constante de afastamento" das passas. Qual o significado dessa constante? Podemos pensar o seguinte: Se a passa A, se movendo a uma velocidade de 1cm/h, está a uma distância de 2cm, há quanto tempo atrás ela estava a uma distância de 0 cm?
O tempo para se mover de 0 até a distância atual é dado por: t = d/v = 2cm/1cm/h = 2h
Certamente podemos fazer o mesmo cálculo para a passa B e para a passa C e chegaremos ao mesmo tempo. Note que fizemos esse cálculo assumindo que elas se moveram com velocidade constante (o que não é necessariamente verdade!)
O tempo para se mover de 0 até a distância atual é exatamente igual ao inverso da constante C:
Uma das constatações mais simples que podemos fazer é que o céu é escuro, à noite. É estranho que esse fato, sobre o qual ninguém em sã consciência colocará qualquer dúvida, e que à primeira vista parece tão compreensível para qualquer pessoa, tenha dado tanto o que pensar durante tanto tempo.
Aparentemente a primeira pessoa que reconheceu as implicações cosmológicas da escuridão noturna foi Johannes Kepler (1571-1630), em 1610. Kepler rejeitava veementemente a idéia de um universo infinito recoberto de estrelas, que nessa época estava ganhando vários adeptos principalmente depois da comprovação por Galileu Galilei de que a Via Láctea era composta de uma miríade de estrelas, e usou o fato de que o céu é escuro à noite como argumento para provar que o Universo era finito, como que encerrado por uma parede cósmica escura.
A questão foi retomada por Edmund Halley (1656-1742) no século XVIII e pelo médico e astrônomo Heinrich Wilhelm Mattäus Olbers (1758-1840) em 1826, quando passou a ser conhecida como paradoxo de Olbers. Olbers também descobriu os dois asteróides (planetas menores) Palas (1802) e Vesta (1807).
O problema é o seguinte: suponha que as estrelas estejam distribuídas de maneira uniforme em um espaço infinito. Para um observador em qualquer lugar, o volume de uma esfera com centro nele aumentará com o quadrado do raio dessa esfera (dV = 4R2 dr). Como a energia das estrelas cai com o quadrado da distância, a energia total recebida é E∝dV×E*/R2≈E*. Portanto, à medida que ele olha mais longe, vê um número de estrelas que cresce com o quadrado da distância. Como resultado, sua linha de visada sempre interceptará uma estrela seja lá qual for a direção que ele olhe.
Uma analogia simples de fazer é com uma floresta de árvores. Se estou no meio da floresta, a meu redor vejo as árvores bem espaçadas entre si, mas quanto mais longe olho, mais diminui o espaçamento entre as árvores de forma que no limite da minha linha de visada as árvores estão todas juntas e nada posso ver além delas.
Algumas propostas de solução:
1. A poeira interestelar absorve a luz das estrelas.
Foi a solução proposta por Olbers, mas tem um problema.
Com o passar do tempo, à medida que fosse absorvendo
radiação, a poeira entraria em equilíbrio térmico com as estrelas,
e passaria a brilhar tanto quanto elas. Não ajuda na solução.
2. A expansão do Universo degrada a energia, de forma que a luz de objetos
muito distantes chega muito desviada para o vermelho e portanto muito fraca.
O desvio para o vermelho ajuda na solução,
pois o desvio é proporcional ao raio do Universo,
mas os cálculos
3. O Universo não existiu por todo o sempre. Essa é a solução atualmente aceita para o paradoxo. Como o Universo tem uma idade finita, e a luz tem uma velocidade finita, a luz das estrelas mais distantes ainda não teve tempo de chegar até nós. Portanto, o universo que enxergamos é limitado no espaço, por ser finito no tempo. A escuridão da noite é uma prova de que o Universo teve um início.
Usando-se a separação média entre as estrelas de 1 parsec, e o raio médio como o raio do Sol, de 700 000 km, obtém-se que o céu seria tão luminoso quanto a superfície do Sol se o Universo tivesse um raio de 2 ×1015 parsecs, equivalente a 6,6 ×1015 anos-luz. Como o Universo só tem 13,8 bilhões de anos, a idade finita do Universo é a principal explicação ao Paradoxo de Olbers.
Portanto o Paradoxo de Olbers e a expansão do Universo resultante da Lei de Hubble são consistentes, o Universo é finito no tempo.
Podemos estimar a idade do Universo to, calculando o tempo que as galáxias distantes, movendo-se à mesma velocidade de hoje, levaram para chegar aonde estão.
Como a lei de Hubble, que relaciona a velocidade de expansão da galáxia, v, com a distância a esta, d, é dada por
Atualmente o valor da constante de Hubble, H, está medido diretamente das galáxias entre 67 km/s/Mpc e 74 km/s/Mpc, resultando em to13 a 15 bilhões de anos (1 Mpc = mega parsec = km).
A teoria da relatividade geral (Albert Einstein, 1916, Die Grundlage der allgenmeinen Relativitätstheorie, Annalen der Physik, 354, 769) é universal no sentido de ser válida mesmo nos casos em que os campos gravitacionais não são pequenos. Trata-se na verdade da teoria da gravidade, descrevendo a gravitação como a ação das massas nas propriedades do espaço e do tempo, que afetam o movimento dos corpos e outras propriedades físicas. Enquanto na teoria de Newton o espaço é rígido, descrito pela geometria Euclidiana [Euclides de Alexandria (c.365-300 a.C.)], na relatividade geral o espaço-tempo é distorcido pela presença da matéria que ele contém. Um ano depois de propor a relatividade geral, em 1917, Einstein publicou seu artigo histórico sobre cosmologia Considerações Cosmológicas sobre a Teoria da Relatividade [Sitzungsberichte der Königlich Preußischen Akademie der Wissenschaften (Berlin), Seite 142], construindo um modelo esférico do Universo. Como as equações da Relatividade Geral não levavam diretamente a um Universo estático de raio finito, mesma dificuldade encontrada com a teoria de Newton, Einstein modificou suas equações, introduzindo a famosa constante cosmológica, para obter um Universo estático, já que ele não tinha nenhuma razão para supor que o Universo estivesse se expandindo ou contraindo. A constante cosmológica age como uma força repulsiva que previne o colapso do Universo pela atração gravitacional. O holandês Willem de Sitter (1872-1934) demonstrou em 1917 que a constante cosmológica permite um Universo em expansão mesmo se ele não contivesse qualquer matéria e, portanto, ela é também chamada de energia do vácuo. As observações mostram que o Universo é relativamente homogêneo em escalas de 100 milhões de anos luz e maiores. Para escalas menores, podemos ver estrelas, galáxias e aglomerados de galáxias, mas em larga escala os elementos de volume são homogêneos. A hipótese que o Universo seja homogêneo e isotrópico é chamada de Princípio Cosmológico.
O físico russo Orest Danilovich Chwolson (1852-1934) foi o primeiro a publicar,
em 1924 (Astronomische Nachrichten, 221, 329)
o cálculo do anel formado por uma fonte perfeitamente alinhada com uma lente,
depois publicado por Einstein em 1936 (Science, 84, 506) e chamado
de Anel de Einstein. Se houver desalinhamento, o observador verá um arco. O observador poderá ver multiplos arcos da mesma fonte, dependendo da forma, alinhamento e posição da fonte, lente e observador.
Dennis Walsh, R. F. Carswell e R. J. Weymann, R. J (1979, Nature, 279, 381)
foram os primeiros a publicar uma detecção de lente gravitacional, do quasar duplo SBS 0957+561. Se o lenteamento for fraco, sua detecção se dá estatisticamente, pelas distorções coerentes na imagem.
Douglas S. Robertson, William E. Carter & William H. Dillinger
publicaram em
1991, na Nature, 349, 768,
as medidas de posição
de diversos objetos astronômicos
a várias distâncias angulares do Sol usando interferometria
VLBI (Very Long Baseline Interferometria,
que utiliza rádio telescópios em diversos continentes simultaneamente,
comprovando que as medidas concordam com a previsão da Relatividade
Geral até 0,02%.
Representação exagerada
do deslocamento do periélio de Mercúrio com o tempo.
O espaço-tempo
é perturbado pela presença da massa do Sol,
exatamente como predito pela Teoria da Relatividade Geral.
O periélio de Vênus também se desloca,
mas de 8,6" por século,
e o da Terra de 3,8" por século, ambos já medidos.
Egravitacional=-Gm1m2/r ↔ ECoulomb=-Kq1q2/rAs ondas gravitacionais são perturbações na curvatura do espaço-tempo e se propagam à velocidade da luz. Uma onda gravitacional proveniente de uma fonte intensa, como um pulsar binário próximo, altera as distâncias, mas por fatores da ordem de 10-21. Esta descoberta lhes valeu o prêmio Nobel de física de 1993. As medidas de 35 anos de observações foram publicadas por Joel M. Weisberg & Yuping Huang em 2016.
O LIGO detectou a segunda coalescência de buracos negros estelares através de ondas gravitacionais em 26 de dezembro de 2015,
poucos meses depois da primeira detecção. Desta vez eram buracos negros de 8 e 14 massas solares, resultando em um buraco negro de 21 massas solares, e convertendo uma massa solar
em energia. O sinal detectado durou 1 segundo, e a fonte está a uma distância de cerca de 1,3 bilhões de anos-luz. No artigo de 2022, eles detalham a detecção de 76 sistemas.
Portanto, a relatividade geral, embora incompatível com a mecânica quântica, está correta com incerteza menor que 10-22.
Em 1950 Fred Hoyle sugeriu pejorativamente o nome "Big Bang" para o evento de início do Universo, quando iniciou-se a expansão. Edward P. Tryon propôs em 1973 (Nature, 246, 396) que o Big Bang ocorreu por uma flutuação quântica do vácuo. Já qual será o destino do Universo tem duas possibilidades:
O padre e cosmólogo belga
Georges-Henri Édouard Lemaître (1894-1966)
foi provavelmente o primeiro a propor um modelo específico
para o Big Bang, em 1927. Ele imaginou que toda a matéria estivesse
concentrada no que ele chamou de átomo primordial e que
este átomo se partiu em incontáveis pedaços, cada
um se fragmentando cada vez mais, até formar os átomos
presentes no Universo, numa enorme fissão nuclear. Sabemos
que este modelo não pode ser correto, pois não obedece
às leis da relatividade e estrutura da matéria (quântica),
mas ele inspirou os modelos modernos.
Independentemente de Lemaître, o matemático e meteorologista russo Alexander Friedmann (1888-1925) descobriu toda uma família de soluções das equações da teoria da relatividade geral.
A família de soluções para a teoria de relatividade geral encontrada por Friedmann e Lemaître descreve um Universo em expansão, e eles são chamados os pais da Cosmologia. As soluções possíveis das equações da relatividade geral incluem expansão eterna ou recolapso.
Se a constante cosmológica for nula (energia do vácuo nula),
os modelos se dividem em
três classes. Se a densidade de matéria for alta suficiente
para reverter a expansão, o Universo é fechado,
como a superfície de uma esfera mas em três dimensões, de modo
que se uma nave viajasse por um tempo extremamente longo em linha reta,
voltaria ao mesmo ponto.
O terceiro caso, chamado de Universo plano (tridimensional), é o limite entre o Universo aberto e o fechado. O Universo neste caso se expande para sempre, mas se a constante cosmológica fosse zero, a velocidade das galáxias seria cada vez menor, chegando a zero no infinito. Neste caso, o Universo é Euclidiano, isto é, tridimensionalmente reto.
Qual destes modelos representa o Universo real? As observações desde 1998 indicam que o Universo é plano (Euclidiano nas três dimensões espaciais), mas acelerado.
Em 1940, o físico russo-americano George Antonovich Gamow (1904-1968), que fora estudante de Friedmann antes da morte deste aos 37 anos, sugeriu um modelo com início oposto ao de Lemaître - fusão nuclear. Gamow publicou os resultados em 1948, com Ralph Alpher [e Hans Bethe (1906-2005)]. O modelo de Gamow iniciou com partículas fundamentais que se aglomeraram em elementos mais pesados, por fusão no Big Bang. Suas idéias estão corretas, exceto que as condições iniciais do Universo não eram apropriadas para fundir o carbono e elementos mais pesados, formando somente H e He em abundância significativa. Os elementos mais pesados foram produzidos mais tarde no interior das estrelas.
Outro ítem importante na cosmologia é a chamada matéria escura, postulada pela primeira vez por Fritz Zwicky (1898-1974) em 1937 (Astrophysical Journal, 86, 217). Esta é a matéria extra necessária para explicar as curvas de rotação das galáxias e as velocidades observadas das galáxias em aglomerados, maiores que as explicáveis através da matéria observada, chamada matéria luminosa. Zwicky, um astrônomo suíço trabalhando com o recém instalado telescópio Schmidt de 46 cm do Monte Palomar, nos Estados Unidos, observando que as velocidades das galáxias em aglomerados eram muito maiores do que deveriam ser - maiores que a velocidade de escape, e calculou que a massa do aglomerado deveria ser pelo menos dez vezes maior do que a massa da matéria visível no aglomerado, isto é, da massa em estrelas e gás pertencentes às galáxias (Fritz Zwicky, 1942, Publications of the Astronomical Society of the Pacific, 54, 185).
Em 1980 Vera Cooper Rubin (1928-2016) mostrou, pelas velocidades de rotação das galáxias, que a matéria escura também está presente em galáxias individuais (Astrophysical Journal, 238, 808).
A matéria escura não emite radiação eletromagnética e, portanto, somente podemos detectá-la através da força gravitacional que ela exerce sobre os objetos. A detecção da existência de matéria escura vem do estudo do movimento de estrelas individuais em galáxias e o movimento de galáxias em cúmulos de galáxias, mas também pelo seu efeito em lentes gravitacionais. Quando aplicamos a lei da gravitação a estes movimentos, detectamos que a massa é muito maior que a massa visível em estrelas e gás.
No Sudbury Neutrino Observatory, em Ontário, Canadá, com 1000 toneladas de água pesada e 9456 fotomultiplicadoras, a 2070 metros de profundidade, operando desde novembro de 1999, foi medido um fluxo de neutrinos do Sol provenientes da reação do ciclo próton-próton envolvendo o Berílio8 de 5,44±0,99 ×106 cm-2s-1, com evidência de oscilação de neutrinos que indica que a soma das massas dos 3 tipos de neutrinos está entre 0,05 a 8,4 eV. Estas massas levam à contribuição dos neutrinos na densidade do Universo entre 0,001 e 0,18 da densidade crítica. Ou seja, os neutrinos não são a forma dominante de matéria escura.
No artigo de dezembro de 2023, Carlos R. Argüelles, da Univervidade Nacional de La Plata, Jorge A. Rueda e Remo Ruffini, do ICRA, argumentam que a matéria escura é formada por férmions neutros com cerca de 50 a 100 keV de eneria (1/3 da de uma elétron), possivelmente neutrinos estéreis, que permitiriam a formação de buracos negros supermassivos em poucos mihões de anos após o Big Bang, como as observações do James Webb Space Telescope estão indicando, por colapso da matéria escura incitado por concentração de bárions, matéria normal.
Podemos expressar a massa em termos da densidade, isto é, da massa por unidade de volume. A densidade crítica, que interromperia a expansão, é de 100 milésimos de trilionésimos de trilionésimos de uma grama por centímetro cúbico.
Como a soma da matéria escura e matéria luminosa do Universo parece chegar a menos de 30% da energia total, aparentemente o Universo está se expandindo com velocidade maior do que a velocidade de escape, isto é, o Universo continuará se expandindo para sempre. Se a constante cosmológica não for nula, como indicam as medidas desde 1998, o Universo é plano tridimensionalmente e vai se expandir para sempre. A constante cosmológica representa uma força contrária à gravidade, que acelera a expansão, em vez de retardá-la. O artigo The Shape of Bouncing Universes, de John D. Barrow e Chandrima Ganguly, de Cambridge, no International Journal of Modern Physics D, Volume 26, Issue 12, id. 1743016, arXiv 1705.06647v1, propõe que uma constante cosmológica positiva, ou energia escura, leva sempre a uma expansão final eterna.
Cada metro cúbico do Universo contém, em média, 400 milhões de fótons e somente 0,1 átomos.
A radiação do fundo do Universo mostra suas condições 380 mil anos após o Big Bang, quando o Universo era dominado por radiação. Nesta época a temperatura do Universo caiu para cerca de 3000 K, suficiente para que os prótons e as partículas-α (He), formadas nos três a quatro primeiros minutos do Universo, começassem a capturar elétrons e formar átomos de hidrogênio e hélio neutros. Os cosmólogos chamam esta fase de recombinação, ou fase de desacoplamento, passando de um Universo dominado por radiação, onde a temperatura da matéria era a mesma temperatura da radiação, para um dominado por matéria.
Em outro experimento do satélite COBE, divulgado em abril de 1992 por George Fitzgerald Smoot III (1945-), da Universidade da Califórnia em Berkeley, também foram detectadas pequeníssimas variações da temperatura nesta radiação (seis partes por milhão). A resolução angular do COBE era de 7°. A uniformidade das medidas só é compatível com a existência do Big Bang, pois de outra forma regiões distintas do Universo não poderiam estar com a mesma temperatura. John Cromwell Mather (1946-) e George Fitzgerald Smoot III (1945-) ganharam o prêmio Nobel de física de 2006 pelas descobertas com o COBE.
Os fótons carregam informação sobre a distribuição de matéria na época do desacoplamento da radiação com a matéria, pois se o fóton estava em uma região um pouco mais densa, parte de sua energia foi gasta para escapar do campo gravitacional. Nos modelos de formação de galáxias, estas flutuações são necessárias para permitir que a matéria formada posteriormente se aglomerasse gravitacionalmente para formar estrelas e galáxias, distribuídas em grupos, bolhas, paredes e vazios, como observamos. Entretanto, o tamanho das flutuações detectadas era limitado pela resolução do instrumento.
Resumindo, os dados até 2010 indicavam que o Universo contém:
Tipo | Porcentagem da densidade crítica |
---|---|
Energia escura | 72,8% |
Matéria escura | 22,7% |
Matéria normal | 4,5% |
Radiação | 0,005% |
Tipo | Porcentagem da densidade crítica |
---|---|
Energia escura | 68,89 %±0,06% |
Matéria bariônica | 4,893%±0,022% |
Matéria escura | 26,21%±0,022% |
Fração da massa em Hélio | 0,249±0,026 |
z(reionização) | 7,67±0,73 ↠ idade 675±87 milhões de anos |
z(equilíbrio matéria-radiação) | 3387±21 |
Qual é a idade do Universo? A matéria total do Universo gera atração gravitacional, em que objetos atraem outros objetos (inclusive a luz, pela relatividade geral). Se a constante cosmológica (Λ) fosse nula, ou seja, se a energia do vácuo (repulsão) fosse nula, a atração gravitacional deveria diminuir a expansão, o que implicaria que no passado a expansão teria sido mais rápida. Neste caso, a idade do Universo pode ser calculada, no limite superior, assumindo que a quantidade de matéria é pequena e que, portanto, não teria reduzido a velocidade de expansão significativamente.
Podemos então estimar a idade máxima do Universo to, calculando o tempo que as galáxias distantes, movendo-se à mesma velocidade de hoje, levaram para chegar aonde estão, isto é, assumindo energia escura nula.
Como a lei de Hubble, que relaciona a velocidade de expansão da galáxia, v, com a distância a esta, d, é dada por
Atualmente o valor da constante de Hubble, H, está medido diretamente das galáxias entre 67 km/s/Mpc e 74 km/s/Mpc, resultando em to13 a 15 bilhões de anos (1 Mpc = mega parsec = km).
Se houvesse desaceleração causada pela atração gravitacional, a idade seria t≥ 2/3 to, isto é, entre 6 e 10 bilhões de anos. Por outro lado, calculando-se a idade das estrelas mais velhas conhecidas, as estrelas dos cúmulos globulares e as anãs brancas, obtém-se entre 12 e 14 bilhões de anos. Mas se a energia escura (constante cosmológica) - descoberta em 1998 com a detecção da aparente aceleração do Universo pela detecção das supernovas tipo Ia mais distantes - não é nula, o Universo está acelerando e sua idade é maior do que H-1. Michael S. Turner (1999, The Third Stromlo Symposium: The Galactic Halo, 165, 431) propos o termo energia escura em 1998.
Note que para um tempo menor que 10-44 s (0,000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 1 segundos), o chamado tempo de Planck [Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858-1947)], a temperatura era da ordem de T≃1032 K e as teorias físicas conhecidas não se aplicam mais, pelo princípio da incerteza: , onde . No tempo de Planck, o raio do horizonte do Universo (raio visível) é RU≃10-33 cm. O raio do Universo que continha toda a matéria hoje observada, era menor que um centésimo de centímetro. As teorias físicas se aplicam para tempos maiores que o tempo de Planck e, no modelo do Big Bang, o Universo está em rápida expansão, com temperaturas colossais e altíssima densidade, uma situação lembrando muito uma explosão, mas que na verdade não é uma explosão que ocorre em um ponto do espaço, mas a geração de espaço em todos os pontos, que se expandem com o tempo.
Gamow calculou a quantidade de deutério que deveria se formar. Era possível obter-se a percentagem observada de deutério se esta matéria estivesse banhada por uma radiação de certa intensidade. Se não houvesse esta radiação de fundo, formar-se-ia muito mais deutério do que o observado. Gamow previu que restos desta radiação deveriam ainda estar banhando todos os corpos celestes, que foi finalmente detectada em 1964, como a radiação do fundo do Universo. O deutério é um hidrogênio pesado, pois seu núcleo contém um próton e um nêutron. Embora observado no gás interestelar, no sistema solar e mesmo nos espectros de quasares, o deutério não pode ser formado nas estrelas. Quando uma estrela se forma por colapso de uma nuvem de gás interestelar, qualquer deutério nesta nuvem é destruído (convertido em hélio) mesmo antes da estrela se tornar quente o suficiente para iniciar a fusão do hidrogênio. Portanto o deutério, como a maior parte do hélio, é um fóssil do Big Bang. Quando o Universo está esfriando, quanto maior o número de átomos em um volume no espaço (densidade), menor a quantidade de deutério que sobrevive, porque a maior parte se converte em hélio.
Como a seção de choque dos neutrinos é extremamente pequena, quando o Universo tinha 1 s, T≃1010 K, os neutrinos, relíquias da época dominada por interações fracas, não interagiam mais com a matéria, e evoluiram desacopladamente. Estes neutrinos, de baixíssima massa, por terem muito baixa energia (T≃2 K, atual), não podem ser observados. Somente se estes neutrinos fossem massivos, poderíamos observá-los por seus efeitos gravitacionais, como massa escura.
A teoria do Big Bang prevê que houve um pequeno excesso de matéria sobre anti-matéria (1 parte em 100 milhões), ou toda a massa seria aniquilada. Quando o Universo tinha t = 10-39 s, sua temperatura era da ordem de T = 1029 K. A esta temperatura, a energia média por partícula é da ordem de 1016 GeV (1 GeV = 1 bilhão de elétron volts), a energia em que as teorias de Grande Unificação prevêem efeitos importantes, como a violação da conservação de número bariônico e a possibilidade da formação de partículas super-massivas, o bóson de de Higgs, predito por Peter Ware Higgs (1929-2024) (Physical Review Letters 13, 508, 1964), ganhador do Nobel em Física em 2013. Estas partículas são instáveis mas de longa vida e podem teoricamente dar origem a este pequeno excesso de matéria sobre a antimatéria. Em 1964, (Jim) James H. Christenson, James Watson Cronin (1931-2016), Val Logsdon Fitch (1923-2015) e René Turlay (1932-2002) conseguiram observar que no decaimento da partícula neutra kaon, ou méson K, existe uma pequena (0,2%) diferença a favor da matéria, em relação à antimatéria produzida (1964, Physics Review Letter 13, 138). Cronin e Fitch receberam o prêmio Nobel em 1980 pela descoberta, demonstrando experimentalmente que existe assimetria matéria-antimatéria no Universo. Sem esta assimetria, chamada de CP (carga-paridade), o Universo dominado por matéria não existiria, já que a matéria e a antimatéria teriam se aniquilado.
Desde a formação das estrelas mais velhas, somente 10% da massa de hidrogênio inicial pode ter sido convertida em hélio, por fusão nuclear no centro das estrelas. A maior parte deste hélio ainda está no interior das estrelas. Portanto, os 25% de hélio observados no gás interestelar e na atmosfera das estrelas foram necessariamente formados no Big Bang.
A figura abaixo mostra como a abundâncias dos elementos formados depende da densidade de prótons e nêutrons, no modelo padrão de Big Bang, em termos da densidade crítica (densidade necessária para parar a expansão do Universo). Se o número de prótons e nêutrons for alto, mais frequentemente eles colidem e mais Hélio4 é produzido. As abundâncias de deutério e Hélio3 decrescem quando aumenta a densidade porque estes núcleons são formados por uma sequência de reações incompleta. Dado tempo suficiente, o deutério e o Hélio3 se transformam em Hélio4. Já o Lítio7 é produzido por várias reações e, portanto, depende da densidade de forma mais complexa. A nucleosíntese no Big Bang só formou os elementos leves: hidrogênio, deutério, hélio e lítio. Todos os elementos químicos mais pesados foram produzidos mais tarde, no interior das estrelas.O Universo Inflacionário, proposto em 1979 por Alan Harvey Guth (1947-), do Massachussets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos [Physical Review D 23, 347 (1981)], e Alexei AlexandrowitschS Starobinski (1948-2023) [Pisma Zhurnal Eksperimentalnoi i Teoreticheskoi Fiziki 30, 719 (1979)], na Rússia, e modificado em 1981 pelo russo Andrei Dmitrvitch Linde (1948-), e pelo americano Paul J. Steinhardt (1952-) [Alan Guth, Inflationary Universe: A Possible Solution to the Horizon and Flatness Problems, Phys. Rev. D 23, 347 (1981); A. Linde, A New Inflationary Universe Scenario: A Possible Solution of the Horizon, Flatness, Homogeneity, Isotropy, and Primordial Monopole Problems, Phys. Lett. B 108, 389 (1982); A. Albrecht and P. J. Steinhardt, Cosmology for Grand Unified Theories with Radiatively Induced 4 Symmetry Breaking, Phys. Rev. Lett. 48, 1220 (1982)] vem de uma das formas das Teorias da Grande Unificação (GUT) das forças forte e eletrofraca. As forças forte, fraca e eletromagnética são descritas como interações entre férmions (quarks e léptons, com spin semi-inteiro), mediadas pela troca de bosons vetoriais de gauge (fóton, gluon, Z e W, com spin inteiro). A unificação das forças prevê uma quebra de simetria espontânea 10-35 s depois do Big Bang. Esta quebra de simetria, ou transição de fase, liberando energia, faz a gravitação agir repulsivamente, expandindo o Universo (o espaço-tempo) por um fator de 1075 e, portanto, plano, sem qualquer partícula de alta energia. Depois de 10-30 s, a teoria é idêntica ao Big Bang padrão. O espectro de flutuações da radiação do fundo do Universo observado pelo COBE, WMAP e Planck é consistente com variações quânticas invariantes em escala, mas a amplitude é muito pequena para ter surgido de um estado arbitrariamente quente e denso como uma singularidade. Esta incompatibilidade, além da planicidade medida, são evidências da ocorrência da inflação. Outra interpretação da mesma transição de fase é que a liberação do calor latente (energia do vácuo) é que faz o Universo se expandir inflacionariamente. Quando publicada em 1979, a transição de fase (super-esfriamento) era prevista ter ocorrido em 10-35s, mas o valor moderno da energia de Higgs [Peter Ware Higgs (1929-2024)] é de 1016 GeV, correspondente a 10-37 s pelo princípio da incerteza: . O bóson de Higgs é a partícula que dá massa a todas as outras partículas, no Modelo Padrão das forças nucleares. O Grande Colisor de Hádrons, LHC, com feixes de 7 TeV cada, está procurando o bóson de Higgs, e desde 2012 encontrou uma partícula deste tipo, mas com 125 GeV.
A Teoria de Tudo precisa combinar a teoria de relatividade geral (gravitação) com a teoria quântica. A mais promissora teoria no momento é a de supercordas (superstrings, cordas supersimétricas). Nesta teoria, as "partículas" fundamentais são cordas que vibram. As ressonâncias nestas cordas criam as partículas diferentes. Cada corda é extremamente pequena, cerca de 1020, ou 100 bilhões de bilhões de vezes, menor do que um próton,
Idade cósmica | Temperatura | Eventos marcantes |
---|---|---|
< 10-44 segundos | > 1032 K | Big Bang. |
Unificação das 4 forças. | ||
Era de Planck. | ||
10-44 segundos | 1032 K | Gravidade se separa das outras forças. |
Era das GUT's (teorias da grande unificação | ||
das forças nucleares forte e fraca e da força eletromagnética). | ||
10-35 segundos | 1028 K | Força nuclear forte se separa da força |
eletro-fraca. | ||
10-32 segundos | 1027 K | Fim da era da Inflação. Universo se expande rapidamente. |
10-10 segundos | 1015 K | Era da radiação. Forças eletromagnéticas e fracas se separam. |
10-7 segundos | 1014 K | Era das partículas pesadas (era hadrônica). |
Fótons colidem para construirem | ||
prótons, antiprótons, quarks, e antiquarks. | ||
10-1 segundos | 1012 K | Era das partículas leves (era leptônica). |
Fótons retém energia suficiente apenas para construirem | ||
partículas leves como elétrons e pósitrons. | ||
3 minutos | 1010 K | Era da nucleossíntese. |
Prótons e elétrons interagem para formar nêutrons. | ||
Prótons e nêutrons formam núcleos de deutério, hélio, | ||
e pequena quantidade de lítio e berílio. | ||
380 000 anos | 3000 K | Era da recombinação. Universo fica transparente. |
Radiação pode fluir livremente pelo espaço. | ||
675 000 000 anos | 100 K | Era da reionização, com a formação das primeiras estrelas. |
1×109 anos | 20 K | Formação de protoaglomerados de galáxias e de galáxias. |
10×109 anos | 3 K | Era presente. |
Formação do sistema solar. | ||
Desenvolvimento da vida. |
Efeito Casimir: Em 1948, os físicos holandêses Hendrik Brugt Gerhard Casimir (1909-2000) e Dirk Polder (1919-2001) do Philips Research Laboratories, propuseram a existência de uma força (energia) no vácuo, devido a flutuações quânticas do vácuo. Essa força foi primeiro medida por Marcus Spaarnay, também da Philips, em 1958, mas mais precisamente em 1997 (Physical Review Letters, 78, 5), por Steve K. Lamoreaux, do Los Alamos National Laboratory, e por Umar Mohideen, da University of California em Riverside, e seu colaborador Anushree Roy (1998, Physical Review Letters, 81, 4549).
O deslocamento para o vermelho z é medido pelo deslocamento Doppler das linhas espectrais:
Este evento chama-se época da recombinação, ou
superfície de último espalhamento. Ela ocorre em
deslocamento para o vermelho (redshift) de aproximadamente z = 1000
já que a temperatura da radiação atualmente é
de cerca 3 K, e
|
A energia gravitacional das galáxias e cúmulos de galáxias, dividida por mc2, a energia de repouso, corresponde a 10-5 e, portanto, a dinâmica destes objetos é não relativística. Esta razão também é a razão entre a temperatura média da radiação do fundo do Universo (Cosmic Microwave Background) e a temperatura das flutuações que deram origem às estrelas, galáxias e cúmulos de galáxias, já que representam o avermelhamento gravitacional (redução de energia) necessário para os fótons escapem do campo gravitacional.
A constante cosmológica pode ser escrita como uma densidade de energia,
A escala natural de densidade de energia, segundo a Física de Partículas Elementares conhecida, deveria ser várias dezenas de ordens de magnitude maior do que a da densidade de energia crítica [Steven Weinberg (1933-2021) 1989, Review of Modern Physics, 69, 1], diferente do que as medidas indicam.
Se a matéria escura e energia escura podem ser unificadas num só modelo, ela teria duas fases: uma, aglomerada em halos, com pressão nula, contribuiria positivamente para o crescimento das estruturas observadas; outra, homogeneamente distribuída, com pressão negativa, contribuiria somente para a aceleração do universo e não teria efeitos dinâmicos sobre as estruturas em pequena escala. Ela é conhecida como quartessência, como no modelo do Gás de Chaplygin (A. Kamenshchik, U. Moschella e V. Pasquier. 2001, Phys. Lett. B 511, 265 e M.C. Bento, O. Bertolami e A.A. Sen. 2002, Phys. Rev. D66, 043507).
Em 1935, Einstein e Nathan Rosen (1909-1995) deduziram que as soluções das equações da relatividade geral permitiam a existência de pontes, originalmente chamadas de pontes de Einstein-Rosen, mas agora chamadas de redemoinhos ou buracos de minhoca (wormholes). Estas pontes unem regiões do espaço-tempo distantes. Viajando pela ponte, pode-se mover mais rápido do que a luz viajando pelo espaço-tempo normal.
Em 1955 o físico americano John Archibald Wheeler (1911-2008), que cunhou o termo buraco negro, escreveu um artigo sobre "geometrodinâmica" mostrando que as pontes de Einstein-Rosen poderiam ligar não somente Universos paralelos, mas regiões do mesmo Universo, formando um túnel no espaço-tempo.
Em 1963, o matemático Roy Patrick Kerr (1934-), da Nova Zelândia, encontrou uma solução das equações de Einstein para um buraco negro em rotação. Nesta solução, o buraco negro não colapsa para um ponto, ou singularidade, como previsto pelas equações para um buraco negro não rotante, mas sim em um anel de nêutrons em rotação. Neste anel, a força centrífuga previne o colapso gravitacional. Este anel é um redemoinho (wormhole) que conecta não somente regiões do espaço, mas também regiões do tempo, e poderia ser usado como máquina do tempo. A maior dificuldade é a energia: uma máquina do tempo necessita de uma quantidade fabulosa de energia. Seria preciso usar-se a energia nuclear de uma estrela, ou antimatéria. O segundo problema é de estabilidade. Um buraco negro em rotação pode ser instável, se acreta massa. Efeitos quânticos também podem acumular-se e destruir o redemoinho. Na verdade a teoria prevê que os redemoinhos (buracos de minhoca) sobrevivem somente uma fração de tempo tão curta que nem a luz consegue atravessá-lo. O outro grande problema de usar um buraco negro como ponte é que a força de maré de um buraco negro estelar é tão grande que despedaçaria qualquer corpo que se aproximasse do seu horizonte. Portanto, embora teoricamente possível, uma viagem no tempo não é praticável.
Em 1964 o americano Murray Gell-Mann (1929-), do CALTECH, e George Zweig (1937-) independentemente sugeriram que a complexidade da interação forte poderia ser explicada assumindo-se que os mais de cem bárions e mésons conhecidos, inclusive os prótons e nêutrons, eram compostos de três partículas fundamentais, chamadas de quarks por Gell-Mann. O nome foi proposto a partir da frase do escritor irlandês James Joyce (1882-1941), na página 383 do romance Finnegans Wake, Three quarks for Muster Mark. Na proposta, um quark tinha carga elétrica 2/3 da carga do próton, e os outros dois -1/3. Entre 1967 e 1973, usando o Acelerador Linear de Stanford, Jerome Isaac Friedman (1930-), Henri W. Kendall (1926-), e Richard E. Taylor (1929-) notaram que o espalhamento de elétrons por prótons e nêutrons indicava que estes eram compostos por partículas menores, com cargas consistentes com a teoria dos quarks. Os três receberam o prêmio Nobel de física em 1990 pela descoberta.
Embora a teoria original propusesse somente três quarks, os quarks, que compõem os hádrons, são em número total de 6: up, down, charm, strange, top e bottom. O próton é formado por 2 quarks up e 1 quark down, enquanto o nêutron é formado por 2 quarks down e 1 quark up. Os quarks interagem pela troca de glúons, dentro da teoria da interação forte chamada de Cromodinâmica Quântica (QCD). A QCD é uma teoria de gauge: uma teoria com simetria de gauge pode ser escrita em termos de potenciais em que somente diferenças de potenciais são significativas, isto é, podemos adicionar uma constante sem alterar os valores. A QCD tem a propriedade da liberdade assintótica, isto é, a interação entre as partículas diminui com o aumento de energia. Como o próton tem baixa energia, os quarks dentro do próton estão fortemente ligados uns aos outros, e os físicos teóricos estão convencidos que a teoria levará ao confinamento, que diz que os quarks não podem existir independentemente, pois estão confinados pela interação forte. O quark charm, predito por James D. Björken e Sheldon Lee Glashow (1932-) em 1964, foi descoberto em 1974 independentemente por Samuel Chao Chung Ting (1936-) e Burton Richer (1931-), com a descoberta da partícula J/, com 3,105 GeV, que é um charmônio, isto é, composto por um quark e um antiquark charm. Em 1976 Ting e Richer receberam o prêmio Nobel pela descoberta.
A teoria de gauge prevê que, para que não hajam infinidades, os hádrons devem ter pares com os léptons. Os léptons são o elétron, o múon e o táon. O elétron foi descoberto pelo inglês Sir Joseph John Thomson (1856-1940) em 1895 e sua anti-partícula, o pósitron, por Carl David Anderson (1905-1991) em 1932, quando ele analisava os raios cósmicos e descobriu em uma das placas fotográficas uma partícula parecida com um elétron, mas se movendo na direção oposta em relação ao campo magnético e, portanto, com carga positiva. O múon foi descoberto em 1937, por Seth Henry Neddermeyer (1907-1988), Carl David Anderson (1905-1991), do CALTECH, Jabez Curry Street (1906-1989) e Edward C. Stevenson, de Harvard, e é 207 vezes mais massivo que o elétron; O táon foi descoberto em 1975 por Martin Lewis Perl (1927-), com 1,784 GeV, ou seja 3500 vezes mais massivo que o elétron. Os outros três léptons são os neutrinos correspondentes, , e . Em 1977 Leon Max Lederman (1922-2018) descobriu o upsilon (), com 9,46 GeV, interpretado como o estado ligado do quinto quark, bottom, e em 1995 dois grupos do Fermilab descobriram o sexto e último quark, o top, com 175 GeV, medindo o estado quark-antiquark .
O decaimento da partícula
Z0, bem como a abundância
cósmica do hélio, e a meia vida do nêutron, demonstra
que não pode haver outro tipo de neutrino além dos três
observados, e portanto não deve haver outro tipo de quark,
pela paridade dos léptons e hádrons.
A gravidade de uma estrela compacta, como uma anã branca, uma estrela de nêutrons ou um buraco negro, de massa M pode aumentar o brilho de uma estrela que esteja atrás dela, agindo como uma lente, durante