Sistemas de Coordenadas
Para determinar a posição de um astro no céu, precisamos definir um sistema
de coordenadas. Nesse sistema, vamos utilizar apenas coordenadas angulares,
sem nos preocuparmos com as distâncias dos astros. A posição do astro
será determinada através de dois ângulos de
posição, um medido sobre
um plano fundamental, e o outro medido perpendicularmente a ele.
Antes de entrarmos nos sistemas de coordenadas astronômicas,
convém recordarmos o sistema de coordenadas geográficas, usadas para
medir posição sobre a superfície da Terra. Nesse sistema
as coordenadas são latitude e a longitude.
- longitude geográfica (λ): é o
ângulo medido ao longo do equador da Terra, tendo origem em um meridiano
de referência (o meridiano de Greenwich), e extremidade no meridiano do
lugar.
Na Conferência Internacional Meridiana, realizada em Washington em
outubro de 1884, foi definida como variando de 0 a
+180° (Leste de Greenwich) e de 0 a -180° (Oeste).
Na convenção usada em astronomia,
varia entre -12h (Oeste) e +12h (Leste).

- latitude geográfica (Φ):
ângulo medido ao longo do meridiano do lugar, com origem no equador e
extremidade no zênite do lugar. Varia entre -90°
e +90°.
O sinal negativo
indica latitudes do hemisfério sul e o sinal positivo hemisfério norte.

- Definição astronômica de latitude:
A latitude de um lugar é igual à altura do pólo elevado (hP).
As coordenadas geográficas não são iguais às magnéticas. O polo norte magnético foi
definido em 1600 pelo físico e matemático inglês Sir William Gilbert (1544-1603) como o ponto onde o campo aponta na vertical.
Entretanto o campo geomagnético não é um simples dipolo, o que faz com que o polo magnético médio não seja igual ao polo geomagnético, e muda com o tempo devido à mudanças no núcleo da Terra. Em 2023, o polo norte geomagnético esta localizado em
latitude 86,126° N e longitude 146,334° O (na costa ao norte do Canadá), movendo-se entre 37 e 72 km/ano enquanto o polo sul geomagnético está localizado em latitude 63,942 S e longitude 135,381 L, entre a Antártica e a Austrália, movendo-se entre 5 e 9 km/ano.
equador geomagnético.
Coordenadas Astronômicas
Foto tirada pela espaçonave Clementina, mostrando
a Lua, a coroa do Sol nascendo atrás da Lua, e os planetas
Saturno, Marte e Mercúrio. O plano da eclíptica é
o plano imaginário contendo a órbita da Terra
em volta do Sol e está inclinado 23,5° em relação ao
equador. Durante o ano, a posição aparente
do Sol está neste plano, assim como todos os planetas
estão próximos deste plano, pois foram formados
no disco proto-planetário.
O Sistema Horizontal utiliza como plano fundamental o Horizonte celeste. As coordenadas
horizontais são azimute e altura.
- Azimute (A): é o ângulo medido sobre o horizonte, no sentido horário
(NLSO), com origem no Norte geográfico e extremidade no círculo vertical do astro. O azimute
varia entre 0° e 360°.

- Altura (h): é o ângulo medido sobre o círculo vertical do
astro, com origem no horizonte e extremidade no astro. A altura varia entre
-90° e +90°. O complemento da altura se chama
distância zenital (z). Assim, a distância zenital é o ângulo
medido sobre o círculo vertical do astro, com origem no zênite e
extremidade no astro. A distância zenital varia entre 0° e 180°:
(h + z=90°)

O sistema horizontal é um sistema local, no sentido de que é
fixo na Terra. As coordenadas
azimute e altura (ou azimute e distância zenital) dependem do lugar e do
instante da observação, e não são características do astro.
O Sistema Equatorial Celeste utiliza como plano fundamental o Equador celeste.
Suas coordenadas são a ascensão reta e a declinação.
O sistema equatorial celeste é fixo na esfera celeste e, portanto, suas
coordenadas
não dependem do lugar e instante de observação. A ascensão
reta e a
declinação de um astro permanecem praticamente constantes por longos
períodos de tempo.
Sistema Equatorial Horário
Nesse sistema o plano fundamental continua sendo o Equador,
mas a coordenada medida ao longo do equador não é mais a ascensão
reta,
e sim uma coordenada não constante chamada ângulo horário.
A outra coordenada continua sendo a declinação.
- ângulo horário (H): ângulo medido sobre o equador, com
origem no meridiano local e extremidade no meridiano do astro. Varia
entre -12h e +12h. O sinal negativo indica que o astro está a leste
do meridiano, e o sinal positivo indica que ele está a oeste do
meridiano.

Tempo Sideral
O sistema equatorial celeste e o sistema equatorial horário, juntos, definem
o conceito de tempo sideral. O tempo sideral, assim como o tempo
solar, é uma medida do tempo, e aumenta ao longo do dia.
- Hora sideral (HS): ângulo horário do ponto Áries. Pode
ser medida a partir de qualquer estrela, pela relação:
- Dia Sideral: é o intervalo de tempo decorrido entre duas passagens
sucessivas do ponto γ pelo meridiano do lugar (Sul-Zênite-Norte).
- Dia Solar: é o intervalo de tempo decorrido entre duas
passagens sucessivas do Sol pelo meridiano do lugar. É 3m56s mais
longo do que o dia sideral. Essa diferença é devida ao movimento de
translação
da Terra em torno do Sol, de aproximadamente 1 grau (4 minutos)
por dia (360°/ano=0,986°/dia). Como a órbita da Terra em torno do Sol é elíptica,
a velocidade de translação da Terra em torno do Sol não
é constante, causando uma variação diária
de 1° 6' (4m27s)
em dezembro, e 53' (3m35s) em junho.
O movimento diurno dos astros, de leste para oeste, é um reflexo do
movimento de rotação da Terra, de oeste para leste.
Ao longo do dia, todos os astros descrevem no céu arcos paralelos ao
Equador. A orientação desses arcos em relação ao horizonte depende da
latitude do lugar.
- 1. Nos pólos (Φ=±90°):
Todas as estrelas do mesmo hemisfério do observador permanecem 24 h
acima do horizonte (não têm nascer nem ocaso), e descrevem no céu
círculos paralelos ao horizonte. As estrelas do
hemisfério oposto nunca podem ser vistas.
- 2. No equador (Φ=0):
Todas as estrelas nascem e se põem, permanecendo 12h acima do horizonte e
12h abaixo dele. A trajetória das estrelas são arcos perpendiculares
ao horizonte. Todas as estrelas do céu (dos dois hemisférios) podem
ser vistas ao longo do ano.
- 3. Em um lugar de latitude intermediária:
Algumas estrelas têm nascer e ocaso, outras permanecem 24h acima do
horizonte, outras permanecem 24h abaixo do horizonte. As estrelas visíveis
descrevem no céu arcos com uma certa inclinação em
relação ao horizonte,
a qual depende da latitude do lugar.
Chama-se passagem meridiana ao instante em que o astro cruza o meridiano
local.
Durante o seu movimento diurno, o astro realiza duas passagens meridianas, ou
duas culminações: a culminação superior, ou passagem meridiana superior,
ou ainda máxima altura
(porque nesse instante a altura do astro atinge o maior valor), e a passagem
meridiana inferior, ou culminação inferior.
No instante
da passagem meridiana superior,
Φ=δk-zk ou
Φ=δv+zv,
já que o ângulo entre o
equador celeste (EC) e o zênite (Z) é a latitude do local, Φ,
ou seja,
cumpre-se a seguinte relação
entre a distância zenital z, a declinação
δ, e
a latitude do local Φ:
onde o sinal + vale se a culminação é feita ao norte do zênite
(zK) e o
sinal - se a culminação é feita ao sul do zênite (zV).
Por exemplo, a galáxia de Andrômeda tem declinação de +41°. Em
Porto Alegre, com latitude -30°, qual é sua altura máxima?
Pela relação anterior, obtemos que sua distância zenital é de
z=±[41-(-30)]°=±71°. Como a altura é o complemento
da distância zenital, a altura
na passagens meridiana é 90°-71°=19°,
pois ela passa ao norte do zênite.
Portanto,
a altura máxima é 19°.
Como esta galáxia tem ascenção reta próxima de 0h, qual é a
melhor época para observá-la? Por definição, o Sol está com AR=0h
próximo de 21 de março. A melhor época para observer um objeto
celeste com AR=0h é 6 meses depois, quando o Sol está em
12h e, portanto, à meia noite a AR=0h passa pelo meridiano superior.
Estrelas Circumpolares
Estrelas circumpolares são aquelas que não têm nascer nem ocaso,
descrevendo seu círculo diurno completo acima do horizonte. Portanto,
as estrelas circumpolares fazem as duas passagens meridianas acima do
horizonte. Para
uma certa estrela com declinação δ ser circumpolar em um lugar
de latitude Φ deve se cumprir a relação:
com δ e Φ de mesmo sinal.
Por exemplo, a estrela mais brilhante da constelação do Cruzeiro do Sul
tem declinação de -65°. Em Porto Alegre, como a latitude é -30°,
essa relação indica:
|65 °|

90°-|30°| = 60°
verdadeiro porque tanto a declinação quanto a latitude têm
o mesmo sinal, negativo neste caso. Essa estrela é circumpolar
em Porto Alegre, isto é, está sempre acima do horizonte.
A estrela Polar, que está próxima ao Polo Norte, nunca é visível
para latitudes Sul.
Para se derivar as relações entre os sistemas de
coordenadas, é necessário utilizar-se a
Trigonometria Esférica,
também detalhada no
hipertexto de Geodésica.
Nenhuma projeção de uma esfera em um plano é perfeita.
A projeção de
Mercator, proposta por Gerhardus Mercator in 1569,
é sobre um plano (x,y), com coordinadas: x = λ, e y = ln[tan(π/4 + φ/2)],
onde φ é a latitude, em radianos, e λ a longitude, em radianos.
Questionário
e
Auto Teste
Simulação em Java de Walter Fendt: Polo Celeste e Posição das Estrelas
Posições do Sol
Astronomia e Astrofísica
©
Modificada em 12 jun 2022